Quinze anos da tragédia do voo JJ-3054
Por Eduardo Lemos Barbosa, advogado (OAB/RS nº 35.070) - E-Mail: eduardo@eduardobarbosa.adv.br
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Eu estava dentro do avião, pousando em Congonhas (SP) na semana passada, quando comecei de novo a lembrar do acidente aéreo de 17 de julho de 2007. É incrível como o cérebro parece possuir um calendário de emoções! E, assim, vieram à tona muitas lembranças do que vivi como advogado de algumas famílias que perderam seus entes queridos naquele fatídico entardecer de uma terça-feira chuvosa.
Muita coisa mudou depois do acidente. Foram 199 vidas que deixaram familiares e amigos arrasados, destruídos emocionalmente. Essas pessoas constituíram uma associação, a AFAVITAM - Associação das Famílias Vítimas do Voo da TAM) para lutar por seus direitos. Foram pujantes, guerreiros mesmo, comandados pelo cidadão Dario Scot, que perdeu a sua filha.
Esses familiares se uniram de maneira coesa e forte. E, além das conquistas no sentido dos direitos dos passageiros, tornaram-se irmãos pela dor e, assim, conseguiram se reinventar emocionalmente.
É óbvio que esses familiares nunca irão se esquecer do dia 17 de julho de 2007, mas foi imprescindível a união entre todos, corroborada pelo apoio psicológico de profissionais sensíveis e capazes que transformaram esse luto em LUTA!
A aviação do país, no aspecto segurança, foi alterada com o aumento da pista do aeroporto de Congonhas, além da colocação de ranhuras nas faixas de pouso e também de maior intervalo entre as aterrisagens entre os voos, dentre outras modificações. A própria empresa aérea TAM mudou de mãos, passando seu controle acionário à chilena LATAM.
As indenizações vieram, inclusive, com ação ajuizada também nos Estados Unidos, na Corte de Miami (Flórida), levando em consideração que um dos passageiros do voo era cidadão americano e ali residia.
A decorrência indenizatória, resultante do acidente, foi eficiente!
Das 199 famílias, 77 ingressaram na Corte de Miami, e fizeram acordo. Outras, 110 famílias fizeram transação extrajudicial, comandada pela Defensoria Pública e Ministério Publico de São Paulo, que criaram as Câmaras de Indenização, e de forma pioneira, mediaram 110 acordos. E os restantes ingressaram na Justiça brasileira, onde levaram muito tempo, para finalizarem seus processos.
Com relação a valores, por uma questão ética e de confidencialidade, não posso informar montantes, nem condições. Passados 15 anos, o mundo mudou muito. Até uma pandemia inacreditável assolou a Terra, mas as 199 vítimas do voo JJ 3054 serão sempre lembradas, pois fazem parte do maior acidente aéreo da aviação brasileira.
Até hoje penso naqueles momentos decisivos, trágicos e finais. Imagino os gritos dos passageiros quando perceberam que a aeronave não estava freando - foram 14 segundos desde o toque na pista, até o choque com o prédio vizinho da própria Tam.
Esta conjunção está narrada num livro que escrevi. Chama-se “A História não Contada do Maior Acidente Aéreo da Aviação Brasileira”. E a cada ano que passa, no 17 de julho, ressurge a saudade e surgem novas informações. Nunca se saberá toda a história. O que se sabe é que A VIDA DA GENTE pode mudar em um lapso de tempo mínimo.
Fonte: Espaço Jurídico
Link: https://espacovital.com.br/publicacao-39896-quinze-anos-da-tragedia-do-voo-jj3054